segunda-feira, 31 de maio de 2010

Fw: ´2012` no Rio

'2012' no Rio

André Balocco, JB Online

RIO - Ícone da MPB do século passado, Tom Jobim eternizou março como o mês mais dramático da temporada das chuvas. O que o maestro não imaginava é que, se fosse compor hoje um de seus maiores sucessos, poderia escolher qualquer mês: as mudanças climáticas que já demonstram sua força planeta afora chegaram para ficar no Rio. Segundo o oceanógrafo David Zee, as últimas inundações no Rio, quando a cidade ficou debaixo d'água em pleno abril, são claros sinais de que o regime de chuvas e marés está mudando – e que não há mais mês certo para se esperar os temporais. Na ocasião do catastrófico temporal do último dia 5 de abril, o Serviço de Meteorologia do Rio de Janeiro registrou um índice pluviométrico de 288 milímetros cúbicos, o maior desde que começou-se a fazer a medição, há mais de quatro décadas.

– Esta cadeia de eventos é originada pela transmissão da enorme quantidade de energia adicional aprisionada pelos gases do efeito estufa. Esta energia é dissipada sob forma de ressacas e furacões mais severos e frequentes e ciclones em regiões antes inimagináveis – conta Zee, em estudo apresentado no IV Congresso Brasileiro de Oceanografia, na semana retrasada, na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.

O estudo da Faculdade de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Mudanças climáticas globais e seus reflexos nas praias oceânicas do município do Rio, anuncia que a elevação do nível do mar compromete a rede de drenagem urbana, provoca a salinização do lençol freático e potencializa o risco de inundações no Rio.

– Vimos isso há pouco tempo, nesta última enchente: o mar se eleva e se transforma numa imensa muralha de água, impedindo que a água proveniente da chuva escoe. Na Praça da Bandeira e na Francisco Bicalho, por exemplo, foi isso o que aconteceu. A água não escoou para a Baía de Guanabara. As inundações que ocorreram na Baixada de Jacarepaguá, em Vargem Grande e em Vargem Pequena, também vão nesta direção.

O estudo aponta soluções paliativas para o problema, entre elas o redimensionamento da galeria de águas pluviais, diante da certeza de que vai chover cada vez mais no Rio. Avalia ainda o perigo de que o lençol freático – a popular água doce – do litoral fique salinizado, inviabilizando sua utilização pelo homem.

– Já temos ventos com mais velocidade, de perfil diferente e a tendência é de que eles se intensifiquem. Assim, teremos mais maresia, porém uma maresia salina e, assim, mais agressão. Choverá com mais intensidade.

Zee garante que não está sendo alarmista. E lamenta que, até o momento, a postura do poder público é a de esperar que a porta seja arombada para, depois, instalar o cadeado.

– Aí poderá ser tarde.

07:40 - 31/05/2010

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